Lembro que estive no México em março deste ano e um rapaz mexicano que estudava para ser cônsul perguntou sobre alguma referência que eu tinha do País. Além, claro, dos sombreros e do chilli, respondi que era fã do Chaves. Para minha surpresa, ele disse que só conheceu a fundo o personagem quando veio ao Brasil em 2007 e percebeu que grande parte dos brasileiros colocavam a homônima série de TV num altar imaginário. Segundo ele, Chaves era um “lixo trash” criado para as pessoas de baixa renda, que só ficou popular nos subúrbios. Não era o que parecia. Sempre que passava por uma lojinha, me deparava com um bonequinho ou imã de geladeira com os rostos dos personagens.
Visitei, então, uma feira de artesanatos na Zona Rosa, na Cidade do México, e vi uma Chiquinha de madeira. Segundo a dona do estande, muitos brasileiros se interessavam por tais produtos. E não só brasileiros, mas venezuelanos, argentinos e chilenos, entre outros.
Explicar a popularidade de Chaves em terras tupiniquins é uma tarefa difícil. Muitos já tentaram, como Luís Joly, Fernando Thuler e Paulo Franco, que lançaram o livro Foi Sem Querer Querendo?. O jornalista Pablo Kaschner colocou suas teorias no papel e publicou a obra Chaves de um Sucesso. Nenhuma convenceu o suficiente para explicar o fenômeno. Nem eu tentarei fazer isso neste texto. Estamos aqui para dizer que Chaves, o show mais popular do SBT, está fazendo 25 anos de sua estreia no Brasil. Foi o único programa a conseguir manter médias de audiência consideráveis por tanto tempo.
Do Cult ao Trash
Por muito tempo, Chaves foi ignorado por intelectuais do País, que assim como o colega do México, o consideravam lixo. Em maio de 1999, a educadora Ruth Rocha, uma das mais respeitadas por aqui, disse em entrevista à Veja que Chaves era o melhor programa infantil da televisão. “Pode ser pobre, feio, mas quem escreve aquilo é inteligente. Chaves é circense. As crianças se identificam com os diálogos, com os trocadilhos, com as cenas de pastelão e com o personagem-título, que se comporta exatamente como elas”, afirmou, na época.
E aí veio a internet. O emblemático programa começou a reunir adeptos via sites especializados e de relacionamento, como o Orkut. Mitos – como aquele que dizia que todo o elenco morreu num acidente de avião – foram desmentidos. Chaves tornou-se cada vez mais hype, mais cult – e numa outra esfera, nerd. Se você entrar nas lojas de camisetas da Galeria do Rock, em São Paulo, verá que grande parte delas traz estampas do Senhor Madruga (Ramón Valdez), o mais popular personagem do seriado. Isso sem contar os adesivos, chaveiros e outros acessórios criados – sem copyright, mesmo – para ovacionar o programa.
Há 25 anos, provavelmente Silvio Santos não esperava que isso fosse acontecer. A TVS (hoje, SBT) era dominada por confusos empresários que não sabiam como preencher a programação. Após fazer uma parceria com emissoras de TV no México, Chaves veio em um lote de 80 episódios, de graça, junto com outras novelas que a emissora tinha adquirido na época. Silvio Santos resolveu exibir a série em 24 de agosto de 1984, no programa do Bozo, alternando a exibição com o tão popular Chapolin Colorado, estrelado pelos mesmos atores. Desde então, Chaves nunca saiu do ar por um período de tempo maior que um mês.
No México, foram produzidos mais de mil episódios da série entre 1971 e 1992. No Brasil, pudemos conferir apenas os capítulos que foram rodados na década de 1970 (a contagem é inexata). Muitos deles foram exibidos apenas uma vez pelo SBT. Outros, tiveram que esperar mais de dez anos para serem reapresentados. A emissora não tem explicação pra isso.
Premissa
Chaves (Roberto Goméz Bolaños) é um menino abandonado pelos pais desde pequeno, que mora num barril numa vila suburbana. Com vergonha de dizer que não tem casa, ele sempre conta aos conhecidos que mora no número oito do mesmo local (daí o nome original da série, El Chavo Del Ocho, ou, O Chavo do Oito). No Brasil, tal detalhe foi retirado da dublagem, apesar de uma ou outra escapada no texto.
Na mesma vila vivem o malandro Sr. Madruga (Ramón Valdez) e sua filha Chiquinha (Maria Antonieta de Las Nieves), Dona Florinda (Florinda Meza) e o filho, o mimado Kiko (Carlos Villágran), e Dona Clotilde, mais conhecida como Bruxa do 71 (Angelines Fernández). Mensalmente, o Sr. Barriga (Édgar Vivar) aparece para cobrar o aluguel. Outro personagem recorrente é o professor Jirafales (Rubén Aguirre), namorado de Florinda, e tutor dos moradores da vila.
A série, roteirizada e dirigida por Bolaños, abusa das piadas prontas, que se repetem à exaustão nos episódios.
O Elenco
Durante a série, Carlos Villágran deixou o elenco para estrelar seu próprio programa, ¡Ah qué Kiko!, exibido na década de 1980 na Venezuela. Ramón Valdez foi com ele para interpretar o Seu Madruga, mas logo teve que sair devido a problemas de saúde. Ele apareceria nos quadros de Chaves até 1988, quando morreu vítima de um câncer de pulmão.
Depois de atuar em Chaves e nos quadros do programa Chespirito, de Bolaños, Maria Antonieta de Las Nieves estrelou Aqui está lá Chilindrina, em 1994, série com apenas 17 episódios que foram reprisados na Televisa por 5 anos. No final da década de 1990, ela foi processada por Bolaños, que disse ser o detentor dos direitos da personagem. Após uma batalha judicial e um ataque cardíaco em 2002, Maria conseguiu os direitos da Chiquinha. Até hoje ela se apresenta em circos pelo México e países latinos como a personagem.
Angelines Fernández morreu em 1994, vítima de um câncer de pulmão. Rubén Aguirre atuou em Chaves até 1983, além de participar dos quadros de Chespirito até a década de 1990. Atualmente, sofre com problemas de obesidade, devido à cortisona – que começou a tomar quando fraturou a perna. Edgar Vívar sofreu pelo menos dois ataques cardíacos nos últimos dez anos, devido à obesidade. Abriu um circo, onde se apresenta como os personagens que lhe tornaram famoso, incluindo aí o Sr. Barriga.
Florinda Meza e Roberto Gómez Bolaños casaram-se no final da década de 1980. Florinda teve problemas respiratórios – devido a uma violência que sofreu na infância – e teve que fazer várias plásticas no nariz. Bolaños é, atualmente, produtor do desenho do Chaves, também exibido pelo SBT, e se prepara para lançar uma animação de Chapolin nos cinemas mexicanos no próximo ano.
Visitei, então, uma feira de artesanatos na Zona Rosa, na Cidade do México, e vi uma Chiquinha de madeira. Segundo a dona do estande, muitos brasileiros se interessavam por tais produtos. E não só brasileiros, mas venezuelanos, argentinos e chilenos, entre outros.
Explicar a popularidade de Chaves em terras tupiniquins é uma tarefa difícil. Muitos já tentaram, como Luís Joly, Fernando Thuler e Paulo Franco, que lançaram o livro Foi Sem Querer Querendo?. O jornalista Pablo Kaschner colocou suas teorias no papel e publicou a obra Chaves de um Sucesso. Nenhuma convenceu o suficiente para explicar o fenômeno. Nem eu tentarei fazer isso neste texto. Estamos aqui para dizer que Chaves, o show mais popular do SBT, está fazendo 25 anos de sua estreia no Brasil. Foi o único programa a conseguir manter médias de audiência consideráveis por tanto tempo.
Do Cult ao Trash
Por muito tempo, Chaves foi ignorado por intelectuais do País, que assim como o colega do México, o consideravam lixo. Em maio de 1999, a educadora Ruth Rocha, uma das mais respeitadas por aqui, disse em entrevista à Veja que Chaves era o melhor programa infantil da televisão. “Pode ser pobre, feio, mas quem escreve aquilo é inteligente. Chaves é circense. As crianças se identificam com os diálogos, com os trocadilhos, com as cenas de pastelão e com o personagem-título, que se comporta exatamente como elas”, afirmou, na época.
E aí veio a internet. O emblemático programa começou a reunir adeptos via sites especializados e de relacionamento, como o Orkut. Mitos – como aquele que dizia que todo o elenco morreu num acidente de avião – foram desmentidos. Chaves tornou-se cada vez mais hype, mais cult – e numa outra esfera, nerd. Se você entrar nas lojas de camisetas da Galeria do Rock, em São Paulo, verá que grande parte delas traz estampas do Senhor Madruga (Ramón Valdez), o mais popular personagem do seriado. Isso sem contar os adesivos, chaveiros e outros acessórios criados – sem copyright, mesmo – para ovacionar o programa.
Há 25 anos, provavelmente Silvio Santos não esperava que isso fosse acontecer. A TVS (hoje, SBT) era dominada por confusos empresários que não sabiam como preencher a programação. Após fazer uma parceria com emissoras de TV no México, Chaves veio em um lote de 80 episódios, de graça, junto com outras novelas que a emissora tinha adquirido na época. Silvio Santos resolveu exibir a série em 24 de agosto de 1984, no programa do Bozo, alternando a exibição com o tão popular Chapolin Colorado, estrelado pelos mesmos atores. Desde então, Chaves nunca saiu do ar por um período de tempo maior que um mês.
No México, foram produzidos mais de mil episódios da série entre 1971 e 1992. No Brasil, pudemos conferir apenas os capítulos que foram rodados na década de 1970 (a contagem é inexata). Muitos deles foram exibidos apenas uma vez pelo SBT. Outros, tiveram que esperar mais de dez anos para serem reapresentados. A emissora não tem explicação pra isso.
Premissa
Chaves (Roberto Goméz Bolaños) é um menino abandonado pelos pais desde pequeno, que mora num barril numa vila suburbana. Com vergonha de dizer que não tem casa, ele sempre conta aos conhecidos que mora no número oito do mesmo local (daí o nome original da série, El Chavo Del Ocho, ou, O Chavo do Oito). No Brasil, tal detalhe foi retirado da dublagem, apesar de uma ou outra escapada no texto.
Na mesma vila vivem o malandro Sr. Madruga (Ramón Valdez) e sua filha Chiquinha (Maria Antonieta de Las Nieves), Dona Florinda (Florinda Meza) e o filho, o mimado Kiko (Carlos Villágran), e Dona Clotilde, mais conhecida como Bruxa do 71 (Angelines Fernández). Mensalmente, o Sr. Barriga (Édgar Vivar) aparece para cobrar o aluguel. Outro personagem recorrente é o professor Jirafales (Rubén Aguirre), namorado de Florinda, e tutor dos moradores da vila.
A série, roteirizada e dirigida por Bolaños, abusa das piadas prontas, que se repetem à exaustão nos episódios.
O Elenco
Durante a série, Carlos Villágran deixou o elenco para estrelar seu próprio programa, ¡Ah qué Kiko!, exibido na década de 1980 na Venezuela. Ramón Valdez foi com ele para interpretar o Seu Madruga, mas logo teve que sair devido a problemas de saúde. Ele apareceria nos quadros de Chaves até 1988, quando morreu vítima de um câncer de pulmão.
Depois de atuar em Chaves e nos quadros do programa Chespirito, de Bolaños, Maria Antonieta de Las Nieves estrelou Aqui está lá Chilindrina, em 1994, série com apenas 17 episódios que foram reprisados na Televisa por 5 anos. No final da década de 1990, ela foi processada por Bolaños, que disse ser o detentor dos direitos da personagem. Após uma batalha judicial e um ataque cardíaco em 2002, Maria conseguiu os direitos da Chiquinha. Até hoje ela se apresenta em circos pelo México e países latinos como a personagem.
Angelines Fernández morreu em 1994, vítima de um câncer de pulmão. Rubén Aguirre atuou em Chaves até 1983, além de participar dos quadros de Chespirito até a década de 1990. Atualmente, sofre com problemas de obesidade, devido à cortisona – que começou a tomar quando fraturou a perna. Edgar Vívar sofreu pelo menos dois ataques cardíacos nos últimos dez anos, devido à obesidade. Abriu um circo, onde se apresenta como os personagens que lhe tornaram famoso, incluindo aí o Sr. Barriga.
Florinda Meza e Roberto Gómez Bolaños casaram-se no final da década de 1980. Florinda teve problemas respiratórios – devido a uma violência que sofreu na infância – e teve que fazer várias plásticas no nariz. Bolaños é, atualmente, produtor do desenho do Chaves, também exibido pelo SBT, e se prepara para lançar uma animação de Chapolin nos cinemas mexicanos no próximo ano.
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