Chega ao fim hoje, segundo dizem por aí, a maior novela brasileira de todos os tempos. Maior só em termos de duração, evidentemente. Pois em termos de qualidade… bom, vamos deixar isso para depois. Ao que tudo indica, esse não é o melhor momento da dramaturgia da Record em muito tempo, se levarmos em conta os índices de audiência declinantes dos últimos meses. Porém, de todas as duas tramas, a que mais sofreu foi Promessas de Amor (Rede Record – no momento 20h45min). Não só na questão do Ibope, mas também em uma tremenda falta de… de… ah, quer saber?, falta tudo mesmo.
Mas nada, nem as interpretações deploráveis de vários nomes do elenco, nem os mais toscos e mal produzidos efeitos especiais, nem o horário de apresentação que nunca para no mesmo lugar, supera o maior de todos os problemas: o roteiro de Tiago Santiago, que há tempos vem se mostrando muito eficiente em ensinar o que não fazer na hora de escrever uma novela. Tudo bem, em 2007 Caminhos do Coração até foi uma boa surpresa, que desvendou um território novo e inexplorado no ramo da televisão brasileira. Era uma mistura louca de desenhos, filmes e séries americanas, como X-Men e Lost, que até poderia ter dado certo se não fossem os exageros do subgênero do realismo fantástico criado pelo autor, que tornaram a atração uma produção de mau gosto e grotesca. Contudo, esses fatores não se refletiram na audiência, que se tornou um dos maiores recordes da Record.
Devido a essa boa aceitação do público, foi então confirmada a 2ª temporada da novela (novelas em temporadas?), Os Mutantes: Caminhos do Coração, em que a saga dos mutantes seguiu em frente e a já pequena e esmirrada qualidade que existia anteriormente se extinguiu por completo e o que sobrou foram as péssimas performances de atores, equipe técnica (aí se incluem os efeitos especialíssimos) e de Tiago Santiago, que continuou à frente do texto. A consequência foi uma audiência ainda acima do exigido, mas já bem inferior a primeira obra. Porém, ainda teríamos o doloroso último capítulo da trilogia.
Foi então que veio Promessas de Amor, que pelas primeiras imagens e chamadas, e até pelo próprio título, parecia nada ter a ver com o universo fantasioso dos seres mutantes. A ideia era elaborar uma trama mais suave e com menos foque na ação, ao contrário das duas anteriores. Mas ao ver a audiência começar a cair drasticamente, a marca “Os Mutantes” foi acrescentada ao título e o investimento na história dos superpoderosos voltou firme e forte, porém sem resultados positivos. Tanto é que a trama está ameaçada a fechar com a pior audiência da Record desde que o canal voltou a investir na teledramaturgia, em 2004.
E a Rede Record não tem do que reclamar. Sempre foi notável certa falta de ideias boas e complexas na maioria das suas tramas. Para tapar esse rombo na qualidade das suas histórias, a emissora recorreu a novelas com muitas cenas velozes e furiosas, na intenção de conquistar um público não cativo pelo usual gênero romantinesco. Mas ação sem conteúdo nunca foi o bastante, e a estratégia da emissora já parece capengar e não mais suprir as exigências de um público cada vez mais clamante por tramas ao mesmo tempo inovadoras técnica e ficcionalmente, no mais saudoso estilo antigo. Aí voltamos a questão do autor, que é quem detém todo o poder sobre a atração. E fica a pergunta: como Tiago Santiago, um dramaturgo com ideologia revolucionária de mais e experiência de menos, pode trabalhar dois anos direto, sem interrupções, sem perder a inspiração, o “fio da meada”? Assim, nem Ivani Ribeiro ou Dias Gomes dariam conta. E agora, por fim, depois do último capítulo da história, é esperar para ver com que pérolas dramatúrgicas o Senhor Santiago nos presenteará em sua nova emissora, o SBT.
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